27/09/2011

Nós somos igreja!




Nos países de língua germânica, sobretudo na Áustria, há um grupo de leigos – leigos “da base” – que se autodenomina “Nós Somos Igreja”. Trata-se, na verdade, de um grupo reivindicatório: fim do celibato obrigatório para os sacerdotes, ordenação de mulheres, comunhão aos casais em segunda união, mais democracia na Igreja, e por aí vai...
A argumentação desse pessoal – na mesma linha daquele modo de pensar de Hans Küng, o teólogo suíço, católico de nome e muito longe da fé católica na prática – é sempre a mesma, torta e fora da realidade: as pessoas deixam a Igreja porque esta não se abre as demandas do mundo atual.
Sobre isto, gostaria de partilhar com você, meu Leitor, dois pensamentos.
Primeiro. Por que alguém deve entrar ou permanecer na Igreja? Será mesmo porque ela atende às minhas demandas? Mas, uma Igreja assim, do meu tamanho, que proclame uma verdadezinha sob medida para mim, ainda é realmente uma religião? Ainda é a Igreja de Cristo? Afinal, a norma da Igreja é a verdade que é Cristo ou as nossas demandas? Dito de outro modo: a Igreja é o espaço do exercício da nossa conversão a Cristo ou, ao invés, da conversão de Cristo a nós? Sempre achei que as pessoas que por algum motivo abandonam a Igreja nunca estiveram realmente nela – porque estar nela realmente é não estar por ela mesma, mas por causa dAquele que a fundou, a sustenta, a ama e nela dá-se como graça e salvação. Não estamos na Igreja por causa da Igreja, mas por causa de Cristo Jesus! Não é a Igreja que é a verdade; a Verdade é Cristo! Se sou católico é porque nessa Igreja – que não é minha, não é nossa, mas é dEle e só dEle! – encontro o Jesus verdadeiro, pleno da potência transformadora do seu Espírito Santo, que me é dado na Palavra e nos sacramentos. Quem está na Igreja pela Igreja, não está realmente na Igreja, pois não chegou ao seu núcleo, ao seu coração, que é Jesus, nosso Senhor! Então, não somos nós quem fazemos a Igreja; ela não é nossa; é de Cristo!
Segundo. Pensando nesse movimento “de base”, Nós Somos Igreja”, o Santo Padre Bento XVI fez algumas considerações muito interessantes: “Quando dizemos ‘Nós Somos Igreja’, é verdade. Nós o somos, mas não é todo mundo que é. Esse ‘Nós’ está longe de ser o grupinho que afirma ser Igreja. O ‘Nós’ é a inteira comunidade dos crentes, hoje em todos os tempos e lugares. E digo-o sempre: na comunidade dos crentes há reivindicações de legítimas maiorias, mas não se pode nunca ser uma maioria contra os Apóstolos, contra os Santos. Nesse caso, trata-se de uma falsa maioria. ‘Nós Somos Igreja’. Somo-lo, somo-lo exatamente pelo fato de nos abrirmos a irmos para além de nós mesmos para estar com os outros”. Eis, meu Leitor: somos Igreja quando somos Igreja com a Igreja de todos os tempos e lugares; somos Igreja quando estamos com a fé dos Apóstolos e dos Santos de todas as épocas. Quem pensa que pode fazer seu grupinho de base para reivindicar seja o que for partindo do modo de pensar e de viver de cada época já não é Igreja, pois se coloca fora daquela Comunidade que teve início com os Doze primeiros e durará até o final dos tempos. É Igreja de verdade quem vive da fé do Povo de Deus, esse Povo de ontem e de hoje, guiado e sustentado pelo Espírito do Ressuscitado, que estará conosco até o fim dos tempos.
Aliás, que solidão, que secura, que pobreza, que incerteza, que autoaprisionamento, se nossa fé fosse de encomenda, do tantinho de nossos caprichos e de nossa visão, tão limitada condicionada pelas modas e cacoetes do momento em que vivemos... Pense nisso e se orgulhe, fiel à Igreja de sempre, em dizer: “Nós somos Igreja”!

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